Poluição do ar é a que mais preocupa na Grande São Paulo, analisa gerente da CETESB

Fazer o controle e a fiscalização das necessidades do meio ambiente no estado de São Paulo é uma tarefa complexa. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, a CETESB, ligada à Secretaria do Meio Ambiente e ao Governo do Estado de São Paulo, desempenha desde 1968 este papel. Pela grandeza e diversidade do estado, os focos maiores que geram preocupações e atenções da entidade são diferentes dependendo da região. Enquanto que no resto do estado a poluição das águas é a que mais preocupa, na Grande São Paulo o ar é o que possui uma atenção maior. Esse tipo de poluição é muito causada devido a grande frota de veículos nas cidades e do grande acumulo de pessoas.

Milton Norio Sogabe é gerente do setor de projetos especiais na CETESB. Atuando há mais de 30 anos na entidade, conhece como poucos as necessidades do estado em relação ao trabalho desempenhado pela companhia. Norio acredita que o controle vem melhorando a cada ano. 

Engenheiro da CETESB há mais de 30 anos, Norio fala sobre os desafios da entidade no estado. Imagem: Julia Corazza


Em entrevista concedida ao Ambiência na sede da entidade, ele fala dos projetos da CETESB, dos desafios e dos resultados alcançados. Em 2013, ele explica, São Paulo foi o primeiro estado a modificar os padrões de qualidade do ar. "O estado de São Paulo é o estado frente, o estado líder nesse avanço de padrões da qualidade do ar", diz. 

Ele ainda comenta sobre programas de outros níveis de governo, como o extinto ControlAr. Criado pela Prefeitura de São Paulo, o programa fazia a inspeção veicular na cidade com o objetivo de controlar a emissão de gases poluentes. "Programas como o ControlAr tem sua importância na preocupação do sujeito em manter a regulagem do seu carro", comenta.




Confira a entrevista completa


Ambiência: O que é a CETESB e qual a sua função? 
Milton Norio Sogabe: A CETESB é uma companhia de economia mista, onde o estado tem a participação majoritária e tem a função de cuidar de saúde pública através da manutenção da qualidade ambiental. Então, essa é a meta. As vezes o pessoal fala de CETESB como poluição, como isso… não, não. Nós somos uma companhia de saúde pública. Saúde pública através da manutenção de uma qualidade do meio, seja ar, seja água, seja solo. Tem uma lei 997 de 76, com decreto regulamentador dessa lei, que é o decreto 8468, também do mesmo ano de 76. Lá tem todos os porquês. Acabou-se o [instrumento] legal, nós temos que trabalhar em cima disso. Tudo o que é possível fazer tá dentro dessas leis e decretos. Para fechar uma indústria, tem um rito. Tem que fazer isso, tem que fazer aquilo. "Vou te fechar por causa que você isso, você não fez aquilo, não fez aquilo, não fez aquilo outro". Então, tem um rito legal e que nós temos [que seguir], e [com] prazos e tudo mais. Tem uma sustentação legal a existência e funcionamento da CETESB.


A: O cidadão comum pode fazer uma denúncia? Como é o processo?
M: Pode. A CETESB tem uma ouvidoria. Qualquer cidadão pode fazer lá a sua denúncia. Ele vai ser mantido incognito,  tal, tal, tal… e [terá] acompanhamento. Só o ouvidor sabe e o ouvidor presta esclarecimentos.


A: Quais medidas a CETESB adota para o controle da poluição do ar no estado de São Paulo? Como e feito essa análise de poluição?
M: Dentro do estado de São Paulo nós temos algumas regiões metropolitanas: a de São Paulo, Campinas, começa Jundiaí, tem a da Baixada Santista, do Vale do Paraíba, e começa agora um pouquinho Sorocaba e Ribeirão Preto. Onde começa a juntar um monte de gente a gente começa a ter problema de, notadamente, poluição do ar. No resto do estado, o mais sensível, o mais visível, é a parte de águas. E as vezes nem é tão visível. Por exemplo, esse fundo do estado de São Paulo, quase que 60, 70% dos municípios utilizam água subterrânea, então é uma água que você não vê. Aqui, na região metropolitana, é um negócio meio que degringolou, então quase que não [se] usa tanto água subterrânea. Mas é um recurso que tá aí. E, nessas épocas passadas aí, que tivemos toda aquela restrição no uso de água, poderia ser um manancial e tanto, né? Mas aqui a coisa tá meio complicada no uso de água subterrânea dentro da Grande São Paulo. Mas tá aí. () Temos dois grandes rios. Um rio grande, que é o Tietê; tem esse, um afluente importante, o Rio Pinheiros. Aqui nós temos, na Grande São Paulo, digamos assim, o meio que é mais preocupante é o ar. Nós temos a água que deu todo esse problema, mas hoje (…) o meio ar atinge democraticamente um monte de gente. A água atinge quem mora do lado, quem mora próximo (...). O sujeito que mora lá adiante, naquelas colinas maravilhosas, etc, etc. não tem tanto problema, né? Mas quem mora do lado sente o cheiro, sente o problema. O ar, não. O ar ele é meio que, nos grande centros, é meio que democrático. Ele vai no nariz do pobre e vai no nariz do rico. 


"Onde começa a juntar um monte de gente a gente começa a ter problema de, notadamente, poluição do ar"


Então, por exemplo, um grande problema do ar que nós temos é o ozônio, que é um poluente. São três oxigênios, tá? E um dos pontos onde ele dá bastante pico nessa época que vem de agosto até o final de novembro é o Ibirapuera. Então ele dá pico no Ibirapuera em fim de semana e tal. Porque é um poluente que não é emitido dessa forma. Seus precursores são hidrocarbonetos e óxido de nitrogênio. Esses dois debaixo do sol formam o ozônio. Então, esse 'cara' aqui às vezes é emitido há cinco, dez quilômetros no lugar onde te dá o pico disso daqui. Então os dois vão lá, são emitidos lá atrás, se juntam, tomam um solzinho e aí formam o ozônio. E ele vai atuar (...). Mas fala: “ah, mas aqui não tem fonte e tal”. É lógico. Primeiro que não existe fonte de ozônio. Existe fonte do seus precursores. Mas esses precursores não é onde que tem a fonte, é onde que vai haver a formação. Eles precisam serem emitidos, se juntarem e tomar sol, tá? Pra formar o tal desse secundário.

Imagem: Julia Corazza


A: Em relação ao grande número de carros, quanto os veículos influenciam na poluição do ar?
M: Na Grande São Paulo, (...) o carro tem bastante importância. Nós temos uma frota que deve tá aí (...) em torno de 7 milhões de carro na Grande São Paulo. A sorte nossa é que os 7 milhões nunca saem junto. O dia em que sair os 7 milhões juntos, não tem espaço. Vai ficar uma fila, uma atrás do outro… não tem espaço. Então, o que sai, o que circula deve ser uns 4 milhões, em torno disso, por aí. Com picos, dependendo se é férias escolares, se não sei o quê [etc]. Então ela varia no ano, tá? E sua persistência e seu impacto são, digamos assim, maximizado dependendo da condição de dispersão, tá? Então, os dia de pior dispersão, ela não se dispersa. Aquele "troço" fica no ar e a concentração vai aumentar.

A: O ControlAr em São Paulo não existe mais, mas qual a importância desse tipo projeto? O que ele media? 
M: Emissões (hidrocarboneto, monóxido de carbono e mais algumas coisas). Era uma ação só da cidade de São Paulo. Também tirava um pouquinho… porque o que roda em São Paulo é um monte de… 80% talvez, 70% é de São Paulo. Mas tem uns 30% que é de Osasco, São Bernardo, Cajamar, as cidades do entorno. Que são cidades dormitórios e o sujeito vem trabalhar aqui. Mas, então, de qualquer forma, mesmo sendo só na cidade de São Paulo, programas como o ControlAr tem sua importância na preocupação do sujeito em manter a regulagem do seu carro. E o cara fala: “puxa vida, preciso manter regulado que janeiro ou fevereiro” - quando o cara tinha renovação da licença dele, ele tinha que fazer o exame do ControlAr. Então, essa preocupação sempre fazia com quê a massa toda se preocupasse com a manutenção de um certo nível mínimo de queima. 

A: E como a queima de combustível funciona?
M: Combustível é o seguinte: você bota um certa quantidade dentro do seu motor, e ele vai te dar energia de trabalho e energia de perda. Energia de perda é quando você tem uma queima mal feita e você não consegue tirar toda sua energia do combustível. Então, de 100%, você usa 80%, e 20% você perde. Perde por uma queima mal feita, má regulagem, perde por algum outro motivo. Então, o que o ControlAr fazia era de certa forma falar: “você vai economizar no seu combustível tudo o que você colocar ali dentro. Você vai ter a maior eficiência na conversão de energia de trabalho, sem perda”. Então era esse o mecanismo que existia.

Então, tem uma certa quantidade de energia dentro do combustível. O que você faz no processo de combustão é tentar o máximo daquela energia que tá lá no combustível, fazer uma energia de trabalho. Qual o trabalho que você quer? Você quer que rode as rodas e faça o teu carro andar. Essa é tua energia de trabalho. Quando você começa a perder porque tua vela tá ruim, porque o não sei o que não tá rodando, porque o tempo do faiscamento não é correto, e etc, etc. Não existe máquina que você entra com uma certa quantidade e ele vai te entregar 100%. Sempre é, quando é muito bom, 95, 97%. Sempre tem perda. Tem perda por atrito, tem perda por uma série de coisa dentro de um mecanismo tipo motor de carro. Mas o que não pode é, além dessas perdas, você ter outras perdas. Aí começa a aumentar a poluição. Por exemplo, você pega um caminhão. Um cara tá soltando aquele tucho de fumaça preta. Boa parte daquilo lá ele tá perdendo é energia. O cara faz aquilo que chama de abre-lacre… apesar que o ControlAr não tinha caminhão, só carros, mas, nas nossas operações que tem no inverno, a Operação Fumaça Preta, não sei o que, não sei o que lá, justamente para que o caminhão não vá com aquele tuchão de fumaça e etc, etc. Quando o negócio tá eficiente, ele sai a fumaça redondinha (…), não aquele tucho preto.

A: Além da Fumaça Preta, existem outras operações da CETESB que o senhor possa destacar? 
M: Ah, sim. Nessa semana, se você entrar no site da CETESB, tem lá todo um negócio com combustível, tudo mais.



A: Como São Paulo se posiciona em relação ao controle e diminuição da poluição do ar nacionalmente. Quanto a qualidade do ar no estado, a Grande São Paulo é a que mais preocupa?
 
M: Não. Tem um programa que chama PREFE. No ano de 2013, a CETESB inovou em todo o Brasil. Foi a primeira agência a modificar os seus padrões de qualidade do ar. O estado de São Paulo é o estado frente, o estado líder nesse avanço de padrões da qualidade do ar. Com um conjunto de padrões promulgados em 2013. E, nos dois anos seguintes, a gente tá trabalhando em algumas áreas que não atendem ao padrão de 2013. Então, isso a gente vem buscando como meta através de um programa chamado PREFE, que é o Plano de Redução de Emissões de Fontes Estacionárias. 



Imagem: Julia Corazza


A: Quais os efeitos de uma qualidade do ar ruim para as pessoas?
M: A pessoa que mora aqui em São Paulo ele tem sempre problema de respiração, etc. Os asmáticos têm maior problema do que um cara que mora em uma cidade menor. Nem precisa ser grande cientista para perceber isso. (…) É sensível isso. A concentração de pessoas, se num aspecto dá ganhos econômicos, em termos de qualidade fica meio comprometido. São Paulo agora está começando, como todo grande centro, virando um pouquinho de transformação na parte industrial e virando uma cidade de serviços. (…) Hoje, você ganhar, sei lá, R$ 1.600,00 e ter uma vida trabalhando em São Bernardo você vai ter um nível de vida. Se você pega essa mesma fábrica e bota lá em Boituva ganhando os mesmo R$ 1.600,00, o cara vai ter uma vida melhor. Qualidade de vida! E quando você dá ao seu operário uma qualidade de vida melhor, você consegue produções melhores, qualidade melhor, uma série de coisa melhor. (…) Isso é superimportante para a felicidade do sujeito.


A: Como as indústrias se portam para manter os níveis exigidos quanto a qualidade do ar e do trabalho dos funcionários
 
M: Tem duas coisas aí que tem que estar bastante claro. Tem uma parte de qualidade do meio ambiente que tá ligado a área do trabalho. Então, essa daí, por questão legislativa, tem uma outra entidade (que é Delegacia Regional do Trabalho), que cuida. Vamos dizer assim: se o cara é morto lá dentro respirando "etc", é um problema ocupacional. Se a fumaça dele saí da firma dele e começa a afetar alguém fora da fábrica, aí é com a gente. É lógico, toda vez que você melhora o impacto de uma firma fora é porque você tá coletando aquilo lá, você tá tratando aquilo. Ao fazer isso, você melhora a qualidade ocupacional. Então, toda vez que você melhora ou minimiza o impacto no meio ambiente você melhora a qualidade ocupacional. Isso com certeza. A gente observa que melhorou e melhorou bastante. Eu tenho mais de 30 anos trabalhando na área. Então, tinha processos industriais que eram meio apavorante de visitar. E hoje você vê que a coisa tá um pouco melhor. 


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Reportagem, texto e imagens: Alan Alexandrino, Leila Aguiar e Julia Corazza. 

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